13 de outubro de 2015

                                 

Museu do Barbeiro e Cabeleireiro

Museu do Barbeiro e Cabeleireiro
Museu do Barbeiro e Cabeleireiro                                  Museu do Barbeiro e Cabeleireiro 
Museu do Barbeiro e Cabeleireiro













  Cortar e afeitar é uma arte que já tem barbas
Nelson Jerónimo Rodrigues
Na cave do Centro Comercial Apolo 70, em Lisboa, há um baú de recordações com mil e um objetos que ajuda a contar a história dos cabelos, barbas e afins. Lâminas e navalhas, ferros de revirar bigodes ou utensílios de barbeiro-dentista são algumas das preciosidades reveladas neste museu pelo cabeleireiro Joaquim Pinto. Então, como vai ser? Uma mise, uma permanente ou um corte à escovinha?
Foi inaugurado há pouco mais de um ano (fevereiro de 2014) mas tem uma história quase tão longa quanto os cabelos de Sanção. O Museu do Barbeiro e Cabeleireiro resulta de três décadas da pesquisa e recolha de Joaquim Pinto, cabeleireiro desde 1966 que dedicou boa parte da vida a juntar relíquias relacionadas com a sua profissão.
Depois de muitos anos a mostrar a coleção aqui e ali - expôs em todo o país e até em França - decidiu abrir um espaço permanente onde o espólio pudesse ser admirado quase todos os dias (apenas encerra ao domingo). A cave do Apolo 70 pode parecer um local inusitado mas tem uma razão de ser: é lá que funciona o salão Pinto`s Cabeleireiros, inaugurado em 1971 no mais antigo centro comercial de Lisboa. E assim, enquanto dá umas tesouradas e apara uns bigodes, pode dar um saltinho à loja vizinha e abrir (gratuitamente) o museu a todos os interessados.

Tesoura e navalhas que fizeram história
O espaço divide-se em duas pequenas salas (contíguas) repletas de objetos. Na primeira saltam à vista duas imponentes cadeiras de barbeiro, uma centenária, oferecida por um colega de profissão de Almeirim, e a outra com cerca de 150 anos, comprada numa feira de Oeiras por 45 contos. Ainda mais valiosas são a navalha de barbear e a escova do rei D. Carlos, emolduradas junto às tesouras que, nas mãos do próprio Joaquim Pinto, cortaram pela última vez o cabelo ao ex-primeiro ministro Sá Carneiro.
De todas as peças, a favorita de Joaquim Pinto é um conjunto de navalhas de barbear, uma para cada dia da semana, mas há outra que lhe traz ainda mais memórias: a ferramenta utilizada na primeira vez que cortou (profissionalmente) o cabelo a alguém (num salão que teve em Moscavide) no final dos anos 60. Mas antes disso já a recruta e a guerra colonial tinham sido passadas de tesoura e máquina zero na mão. O jeito revelado foi tanto que, ainda hoje, corta o cabelo ao Comandante e a outros homens da sua antiga companhia.
A história dos cabelos e da barba é contada através de objetos muito antigos, como uma bacia em louça da Companhia das Índias, e outros mais tecnológicos (para a época) que parecem saídos dos filmes de ficção científica do início do século passado. São os casos de um secador de pé com corrente de 110 volts ou de uma máquina de fazer permanentes a quente utilizada nos anos 40. Curiosos são também os antigos ferros de frisar cabelos e bigodes, uma maleta em cortiça de um barbeiro ambulante alentejano e um diploma da Associação de Barbeiros, Cabeleireiros e… Amoladores. Sim, em 1855 os três ofícios faziam parte da mesma corporação.
Em tempos idos os barbeiros tinham ainda mais responsabilidades. Até 1870 alguns também arrancavam dentes, função recordada, por exemplo, com um estojo portátil de higiene oral, e outros ainda faziam pequenas cirurgias e sangramentos, como mostram algumas bacias e utensílios da época. Na altura não havia anestesia mas uma bebida alcoólica (quanto mais forte melhor) ajudava a disfarçar a dor.
Segredos bem guardados e relíquias para o mundo ver
Num canto do museu encontramos mais preciosidades, com destaque para uma coleção de giletes descartáveis e para uma cadeira de barbeiro bicentenário em madeira. Já na divisão mais pequena do museu estão expostos vários livros, ilustrações e cartazes mas o que mais sobressai são os frascos outrora utilizados para guardar produtos indispensáveis numa barbearia, como a brilhantina, a água de colónia ou o pó de talco.
Junto a eles, uma moldura com recortes de jornais mostra algumas das muitas notícias sobre Joaquim Pinto e o seu estabelecimento. “A Catedral do corte e penteado”, titula uma, “A arte de ser discreto”, diz a outra, e por aí em diante. Uma fama que vem de longe e continua a atrair inúmeros ilustres, da política ao mundo dos negócios. Muitos acabam por deixar escapar alguns segredos e até desabafar sobre a vida pessoal mas o que contam fica no segredo dos Deuses. Haverá melhores confidentes que os barbeiros? “Nem os padres!”, brinca Joaquim. O que é para guardar não sai das paredes do salão. O resto está à vista de todos no Museu do Barbeiro e Cabeleireiro.

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